Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável- GPERS

Compreensão da demanda futura de leitos para infectados por coronavírus no Estado de Rondônia

Prof. Dr. Artur de Souza Moret- amoret@unir.br

Grupo de Pesquisa Energia Renovável Sustentável- GPERS (www.energsust.unir.br)

I- Apresentação

O objetivo deste texto é construir uma relação que apresente a quantidade futura de internados no Estado de Rondônia, para que o poder público se prepare para que não haja colapso do sistema de saúde, tal como está acontecendo em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e na cidade de Manaus.

O importante é compreender quando acontece o pico da epidemia, seja porque neste momento o sistema de saúde recebe uma quantidade signficativa de pessoas doentes e pode assim colapsar. Entretanto, a determinação do momento de pico é difícil porque vários fatores influenciam, como apresentato por Kuniya (2020) em trabalho produzido no Japão: População total do local analisado, Número de casos confirmados até aquele momento, Média de novos casos diários, Total de pessoas que se encaixam em grupos de risco, Total de pessoas que podem ser expostas ao vírus, Total de pessoas que podem transmitir o vírus, Total de pessoas que são imunes ao vírus, Total de pessoas que foram infectadas mas se recuperaram até aquele momento, Tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas e Tempo no qual o infectado consegue transmitir o vírus para outras pessoas.

Para a realidade do Estado de Rondônia, onde os dados e as informações são escassas, será possível fazer uma análise qualitativa com apoio de dados quantitativos, a partir da reorganização e alteração dos fatores propostos por Kuniya (2020).

II- Pressupostos para a determinação da demanda futura de leitos em Rondônia

Os valores quantitativos são o resultado da modelagem dos casos de internações em Rondônia tendo como referência o comportamento passado. A partir disso, os pressupostos qualitativos limitam a abrangência dos quantitativos.

I- Pressuposto quantitativo. Os dados do passado (até dia 25/04) podem produzir uma curva de tendência do comportamento futuro (curva f(x)=0,01 x³–0,03 x^2-0,15x–0,98), a partir da simulação do pacote matemático CALC. Entretanto, essa curva não pode ser extrapolada para além do pico, intui-se 30 dias após o dia inicial de análise.

II- Pressupostos qualitativos. Os fatores de deteminação do pico serão re-adequado para as condições específicas de Rondônia, com a respectiva qualificação por influência no processo de contaminação: alta influência qualificação 5, média 3 e menor influência qualificação 1. Dessa forma, serão analisados aqueles de qualificação com maior impacto na produção do pico da pandemia.

III- Pressupostos qualitativos. O Estado de Rondônia está no início da pandemia e é provável que o pico seja depois de 30 dias, porque neste momento o número de contaminações tem crescimento significativo e as contaminações deste momento produzirão internações daqui a 10 a 15 dias.

IV- neste momento o Estado e as Prefeituras estão flexibilizando o isolamento e as contaminações. Portanto, se as contaminações estão grandes e não há intensificação do isolamento a contaminação é um processo geométricoⁱ e com grande probabilidade de que o crescimento de infectados e internações persista além de 30 dias.

III- Previsão da demanda de internações para Rondônia

III.1- Fatores influenciadores do pico da pandemia

Do total de 10 fatores indicados por Kuniya (2020) que influenciam no pico da pandemia de coronavírus, 5 tem grande relevância para o Estado de Rondônia (estão destacados no quadro 01), que são relacionadas à situação particular local: i- há baixa testagem, ii- há baixo monitoramento das pessoas infectadas visando parar o processo de infestação, iii- o isolamento está sendo flexibilizado e por isso a maior exposição das pessoas, iv- a maior exposição de pessoas induz que haja mais infectados e o processo de contaminação comunitária se expande.

Assim podemos analisar os cinco fatores:

4- Total de pessoas que se encaixam em grupos de risco. No Brasil não há mais a indicação de que apenas o grupo de risco está mais vulnerável aos problemas da covid-19, portanto a população em geral está suceptível a contaminação.

5- Total de pessoas que podem ser expostas ao vírus. Considerando que o isolamento está sendo flexibilizado e, sobretudo, porque parte da população não está atendendo ao isolamento e há informações de que o isolamente em RO é menor que 50%, intui-se que a metade da população esteja exposta ao virus.

6- Total de pessoas que podem transmitir o vírus. Consideram-se as mesmas considerações do fator anterior.

9- Tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas. Como não há testagem em grande quantidade da população não há possibilidade de quantificar este tempo tempo e, tampouco, os infectadas.

10- Tempo no qual o infectado consegue transmitir o vírus para outras pessoas. As mesmas considerações do fator anterior.

Quadro 01: Fatores que influenciam o pico da pandemia em Rondônia

* o isolamento é menor do que 50%;**pelas informações são 14 dias

III.2- Pressupostos quantitativos

Os dados de infectados (desde 14 e março) e internados (desde 30 de março) em Rondônia decorrentes do coronavirus são divulgados oficialmente em boletim diário (http://www.rondonia.ro.gov.br/edicao-31-boletim-diario-sobre-coronavirus-em-rondonia/), entretanto destacam-se questões que indicam subnotificação, porque não há testagem suficiente da população e o Estado demorou a tomar decisão sobre coronavirus; um destes indícios foi apresentados por Moret (2020) no texto Considerações sobre os dados de mortes por doenças respiratórias em Rondônia em 2019-2020: há influência do coronavírus? Indicando que já em em fevereiro de 2020 houve mortes por insuficência respiratória e pneumonia em quantidade maior do que em 2019, indicando que uma parte pode ser decorrente do coronavírus, isso porque o Ministério da Saúde já destacou que 4% das mortes por estas morbidades podem ser por coronavírus.

Os dados de infectados em Rondônia começaram a apresentar valores mais expressivos, em torno de 25 dias após o Estado externalizar informações sobre o coronavírus, e o nímero de internados somente apareceu em 2 e 3 de abril, mas o crescimento começou a aparecer a partir de 12/04. Entretanto, é uma informação que chama a atenção, porque mesmo sem internados as mortes já aparecem a partir de 30 de março.

Os dados de infectados e internados (quadro 02) tem a mesma composição matemática. Os dados foram modelados, pelo software CALC, e a curva de tendência dos dois sistemas polinomiais são de grau 3. A função para o número de infectados é f(x)= 0,02x³–0,6x²–6,82x–16,46 e a função para o número de internados é f(x)=0,003 x³–0,03 x^2-0,15x–0,98, sendo x relativos aos dias.

O número de contaminados e de internados guardam relações, porque as curvas tem comportamentos polinomiais de crescimento e a média de internados para infectados é de 6%, mesmo que os valores desta relação aumente no decorrer dos dias; os valores internacionais desta relação chega é de 5%.

Quadro 02: Número de infectados e internados divulgados em Rondônia

Fonte: Boletim coronavírus, 2020, acesso: http://www.rondonia.ro.gov.br/?s=boletim+coronavirus

As figuras 1 e 2 representam os dados pretéritos de infectados e internados, até dia 25/04. Os valores estão dispostos para mostrar a defesagem entre um e outro. Assim, podemos concluir e intuir de que:

• as condições de isolamento social em Rondônia não é adequada;

• o Estado e os municípios estão propondo flexibilização;

• as detecções de contaminações estão crescentes, portanto as contaminações sociais estão da mesma forma crescentes;

• assim é provável que a curva de crescimento se mantenham nos mesmos parâmetros que até hoje se apresentam;

• portanto intui-se que o crecimento de internados vai obedecer a curva de tendência apresentada no quadro 03.

IV- Fechamento

A tendência de demanda modelada para leitos em Rondônia para 30 dias está apresentado no quadro 03, entretanto é necessário destacar que essa demanda se efetiva se as condições de isolamente se mantiverem como atualmente. Assim, a a previsão de demanda de leitos de acordo com o que foi proposto na simulação:

• 5^o dia 64 leitos

• 10^o dia 110 leitos

• 15^o dia 194 leitos

• 20 dia 302 leitos

• 25 dia 444 leitos

• 30 dia 624 leitos

 Estes valores estão muito acima da capacidade de suporte do sistema de saúde atual do Estado de Rondônia, por três condições principais:

1. o Estado de Rondônia não fez ações de introdução de UTI`s exclusivas para atendimento de doentes pela pandemia, em todo o Estado foram incluídas apenas 26 UTI`s exclusivas;

2. outras doenças necessitam de UTI, portanto estes leitos em RO no podem ser colocados como exclusivos para a pandemia;

3. as contaminações por coronavírus estão se expandindo geometricamente e o poder público não está tendo papel relevante de intervenção visando frear o processo de contaminação.

Por fim, considerando que não há informaões históricas da quantidade de ocupação de leitos por UTI, porque somente após o boletim 38 foram disponibilizadas a informação, como segue: 30% no boletim 38, 31% no boletim 39, 36% no boletim 40 e 82% no boletim 41, assim podemos intuir que ao logo do tempo seja de 50% a ocuṕação de UTI`s por coronavírus para o período estudado. II- considerando que o total de UTI no Estado de Rondõnia é de 263, no quadro 04, o sistema de saúde entre em colapso no 27<sup>o</sup> dia, entretanto há que se analisar que há outras doenças que necessitam de UTI e por isso não se pode considerar este período. II- o total de UTI`s específicas para o covid-19 é de apenas 26, portanto o sistema se considerar apenas esta quantidade o sistema já estaria em colapso no momento que o texto está sendo escrito.

Dessa forma, o Poder Público necessita envidar esforços para minorar a situação:

• com reversão da flexibilização,

• com implementação de programa emergencial para a implantação de novas UTI`s,

• para implantar aquisição de EPI`s para os profissionais de saúde,

• para implantar a aquisição de testes visando monitorar infectados.

Quadro 03: Proposição da demanda por leitos para contaminação de covid-19

Quadro 04: UTI no Estado de Rondônia

Fonte: http://cnes2.datasus.gov.br/Mod_Ind_Tipo_Leito.asp?VEstado=11&VMun=110160

Referências

MORET, Artur de Souza. Considerações sobre os dados de mortes por doenças respiratórias em Rondônia em 2019-2020: há influência do coronavírus?. 21/04/2020. Disponível em http://www.energsust.unir.br/noticia/exibir/11115

Kuniya, T. Prediction of the Epidemic Peak of Coronavirus Disease in Japan, 2020. In: J. Clin. Med. 9, 789.2020. Acesso: https://www.mdpi.com/2077-0383/9/3/789

Notas

i O processo geométrico é explicado pela referência de contaminações, no caso do cronavírus cada infectado pode chegar a contaminar 3 pessoas. Neste parâmetro de contaminação, 1 pessoa contamina 3, estas 3 contaminam mais 3 e assim sucessivamente, portanto apenas um pessoa é capaz de produzir contaminação em 10 dia quase 20 mil pessoas.

Dia 1:1 infectado ; dia 2:3 infectados; dia 3:9 infectados; dia 4:27 infectados; dia 5:81 infectados; dia 6:243 infectados; dia7:729 infectados; dia 8:2187 infectados; dia 9:6561 infectados; dia 10:19683 infectados.